domingo, 4 de novembro de 2012

confidente

Só rezando e vivendo, vivendo e rezando - há meses. As histórias acabam voando, seu Manoel. Fico observando a capacidade que tudo tem de ser assim, inacreditável. Meus cílios conversam entre si a cada vez que meus olhos piscam e acabam se abraçando quando demoro num sonho. Sei que o senhor sabe como é. Falando nisso, às vezes fico tentando desenrolar um texto, fazendo parecer fácil essa mania de procurar frases no chão como se olhasse o céu. De vez em quando, seu Manoel, eu fico assim, a vida perde os motivos, perde a graça, perde a mim. Fico querendo achar por aí, uma porção de felicidade. Podia ser a granel, para entregar a todo mundo, porque muita gente precisa mais que eu. Não saio por aí contando pra ninguém desses momentos, Deus me livre, que é pra não ficar circulando amargura ao meu redor, sabe, seu Manoel?! Procuro tratar das coisas pequenas e vou me esquecendo quando vejo um sorriso. No fim está todo mundo sorrindo junto e isso é o que importa. Acho que as coisas só existem porque acreditamos nelas. Não sou de fazer alarde, de chegar espantando as borboletas. Às vezes o que sinto, arde nos ombros, Seu Manoel. Eu confesso, se o senhor quer saber, gosto de morar na cidade, mas se for possível, quero uma casinha à beira – mar, numa dessas cidades miúdas do Maranhão. Basta caber meu coração. Aí tudo o mais caberia. Lá eu não ia ficar arrumando Cd’s, livros e guarda – roupas na tentativa de me reorganizar internamente, porque tudo seria o meu avesso. A vida não ia precisar ficar empilhada num canto. Eu imagino que mesmo quando anoitece, na praia a gente é sempre uma pessoa solar. O senhor não acha?! Sinto a realidade assim, hoje: já consigo caminhar na lucidez. Rezei muito esse ano, esses meses. Isso ajuda. Prefiro calar. Silêncio diz é coisa, seu Manoel. E no mais, vambora contando essas gigantices. Sejamos nós dois os malucos que ainda ouvem a voz do passarinho pousado no fio, mesmo com um monte de barulho na rua. Seu Manoel, tem tanta coisa esbarrando nesse coração que daqui uns dias não vai ter outra alternativa senão dividi – lo. Escancara as janelas, clareia meus dias e noites. Seu Manoel, deixa teus sorrisos sabidos, sempre. Esse leve confessar da beleza envolvente na alma. Seu Manoel, o senhor que tem o nome do meu avô, agora é meu confidente. Sábia escolha, o senhor sabe mais que eu, são esses detalhes tão pequenos que praticamente nos deixam vivos, nos dão a certeza cega de continuarmos assim nessa busca por contentamentos. Por isso deixamos que o riso se torne fácil, a alegria repouse cativa. A vida parece se tornar mais doce , seu Manoel. Porque ao nos deixarmos levar pelo encanto do nosso coração e dos sentimentos presentes nele, automaticamente, sabemos ter a quantidade ideal de açúcar. Guimarães Rosa morreria de amores pelo senhor se o conhecesse. E como morreria! Vou ficar para mais uns cafezinhos. Espero que não se importe.

2 comentários:

Andréa Torres disse...

Um dos mais bonitos. Me identifico com ele. Leio, releio - me vejo. Abraços Natália.

Natália Macedo disse...

Ô que bom!Tenho dado preferência a textos mais curtinhos, penso que os maiores ninguém lê, pela forma como vou encaixando as palavras, não acho muito interessante, mas eu gosto de escrever assim, sempre gostei.Então, esse texto é especial pra mim. Seu Manoel não é imaginário, ele é um senhor poeta, vivo. Graças à Deus. Obrigada, querida. Fica com Deus e volte quando quiser. Abração :)