domingo, 14 de outubro de 2012

eu, passarinho

Lembro que quando tinha seis anos, meu pai me trouxe de presente – dentro de uma gaiola – um passarinho. Eu poderia dizer que ele era amarelinho e vivia cantando. Poderia dizer também que era um bem-te-vi ou um rouxinol, mas a verdade é que eu não lembro nada disso. Eu só lembro que tive um passarinho dentro de uma gaiola. E já com seis anos eu era consciente – ou idiota mesmo, já que abri a portinha pra brincar com o bicho – e o deixei fugir. Claro que eu chorei demais. Eu sempre chorei muito. Eu o queria livre, mas o queria perto de mim! Ainda deixei comida num potinho em cima do muro, todos os dias pra ver se ele viria me visitar, mas nunca mais o vi. Ou talvez tenha visto. Talvez a gente já tenha se cruzado – eu indo e ele vindo, ou o contrário, claro. Mas ele nunca mais foi meu. Com seis anos eu corri o primeiro risco da minha vida: deixei livre algo que eu amava. Nunca mais tive outro passarinho. E talvez isso seja bom, afinal de contas, quem tem asas adquire o direito de voar por aí livremente. Cadê as minhas?!

4 comentários:

Jacyara disse...

Natália, parabéns pelo blog! Você escreve muito bem, não nos conhecemos, mas descobri esse espaço navegando pela internet e me chamou atenção. Continue com esse talento, sucesso!
Ah, sobre o texto... me lembrou uma frase de Dalai Lama,
Dê a quem você ama asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar"

Natália Macedo disse...

Olha só que coisa boa! Compartilho com você o carinho por Dalai. Maravilha ler teu recadinho no fim do expediente. Não sei se dei motivos, mas desde já, peço: fica aqui nesse espaço, tá?! Rs. Gosto de gente corajosa, que chega e diz "ei, eu tô aqui". Jacyara," ser sensível nesse mundo, requer muita coragem". Bem - vinda!

Jacyara disse...

Pois cheguei chegando, hehe. Ganhaste uma leitora, Natália \o/ Esse cantinho é especial!

Natália Macedo disse...

Oba!:)